Ler, alimenta: projeto troca livros por alimentos e ajuda diversas famílias no Rio e Baixada Fluminense

O projeto, que começou na Penha, é iniciativa de Cida Burlandy e já tem extensões em outros locais da região metropolitana

Uma campanha movimentou as redes sociais no mês de agosto contra tributação de livros que, de acordo com a reforma proposta pelo governo federal, uma taxa seria adicionada ao produto. O resultado imediato dessa tributação tem como consequência o encarecimento das obras literárias e, ao longo do tempo,  o acesso das classes mais pobres aos títulos seria dificultado. Atualmente, os livros são isentos de taxação. 

Da esquerda para direita. mesa marrom de mogno, logo a direita vemos pilhas de livros e uma mulher com uma blusa cinza utilizando um notebook preto, atrás um sofá retrátil marrom
Foto: Divulgação

Entretanto, iniciativas tentam remar contra a maré e unem solidariedade à cultura. Em tempos de pandemia, a publicitária e social media Cida Burlandy ficou sensibilizada com pessoas que muitas vezes não têm acesso a um bem básico: alimentação. A publicitária criou o projeto Ler, Alimenta e, através das redes sociais, troca livros por alimentos. 

“Eu já ajudava a alguns projetos de algumas pessoas. Mas resolvi eu mesma fazer alguma coisa”, revela Cida.  

O processo de troca de livros é simples: os títulos são expostos no Instagram e os interessados s entram em contato através da caixa de mensagem da rede social. Cada livro corresponde a um alimento descrito na imagem. As doações formam uma cesta que são distribuídas para quem precisa. 

“As cestas eu entrego pra famílias que precisam, as que chegam até mim pedindo ou indicações de pessoas que conhecem quem esteja precisando, ou instituições. Até hoje já entregamos 27 cestas”.

Multiplicação da cultura e solidariedade em outros bairros
Da esquerda para direita: Tres pilhas de livro e a frente uma mulher sorrindo, com cabelos cacheados com uma blusa laranja apontando para os livros
Foto: Divulgação

A iniciativa deu tão certo que Cida virou uma multiplicadora. O ‘Ler Alimenta’ começou na Penha e também tem como membro o marido de Cida, Yuri Almeida, e  pessoas de outros bairros resolveram se unir a causa. É o caso de Jaqueline Ramos, que é agente de apoio à educação especial da prefeitura do Rio. No início, Jaqueline pensou tocar o projeto para auxiliar seus alunos no bairro de Campo Grande, na Zona Oeste. Mas a ideia deu tão certo que hoje ela consegue ajudar também outras famílias.

“Começou com 24 livros. As pessoas abraçaram a ideia e já conseguimos mais de 630 livros. Consegui entregar 365 livros e montar 33 cestas básicas”, afirma Jaqueline.

Jaqueline revela que ao sair da “bolha” , é possível ver uma realidade que muitas vezes é difícil de encarar. Porém, a jovem afirma que alimentação e cultura não devem andar separados.

Conseguir também dar acesso à cultura a outras pessoas , eu me sinto modificando o mundo de duas formas. Quanto mais acesso à cultura nós tivermos, maiores serão as chances da gente conseguir mudar o nosso bairro, o nosso país. 

O Ler, Alimenta também está presente na Zona Norte. As estudantes Lohany Pereira e Amanda Beatriz Kerklaan são as responsáveis pela extensão do projeto na Ilha do Governador. O sentimento de incapacidade diante de tantas notícias ruins nos período de pandemia motivou Lohany a fazer algo que modificasse de forma positiva a vida de pessoas. 

Duas mulheres dentro de um carro. Da direita para a esquerda. a mesma mulher da foto anterior, com uma mascara azul com bolinhas brancas, de blusa listrada, ao fundo, uma outra mulher com cabelos presos, e usando uma mascara azul claro, com uma blusa laranja, indo entregar os livros
foto: Divulgação

“A gente participa de um grupo muito privilegiado que não foi tão afetado pela pandemia. Eu poderia estar fazendo alguma coisa, mas não sabia o que fazer. O sentimento era esse. Quando eu encontrei o projeto, surgiu algo que eu curtia fazer para poder ajudar”. 

Cida também permitiu que o projeto fosse para a Baixada Fluminense, em Nilópolis. Nessa região, o Ler, Alimenta tem como responsáveis Ana Clara Rodegheri, Ana Flavia Rodegheri e Ana Carolina Marckiolo. Ana Flavia conheceu a iniciativa pela amiga Lohany Pereira, da extensão Ilha do Governador. 

“Um mês atrás mais ou menos a Lohany pediu para eu fazer umas entregas pra ela aqui em Nilópolis e eu fui com a minha irmã (Ana Clara) e foi muito legal a experiência, a troca com as pessoas e despertou aquela vontade que estava por aqui!’

Tres mulheres em uma pizzaria, a cima uma tv de tela plana, abaixo uma mulher de cabelos pretos de pele clara sorrindo, logo a baixo uma menina de cabelo preso, sorrindo de macacão jeans e abaixo dela uma menina sorrindo de cabelos soltos, de vestido branco com corações rosa.
Foto: Divulgação

Segundo Ana Flavia, o engajamento das pessoas é grande; a primeira postagem nas redes sociais foi no dia 20 de agosto e no dia seguinte todos os livros já haviam sido trocados. 

No momento em que algumas pessoas carecem de alimentação e acesso à cultura, iniciativas como Ler, Alimenta tem como frente incentivar as pessoas a ajudar e oferecer algo que vai além da alimentação. O espírito de solidariedade e a paixão pelos livros é o que move todos os membros engajados com a ideia. 

“Saber que mesmo que de uma forma devagar e pequena, consigo ajudar a mudar o mundo e ajudo a alimentar uma família. É clichê, eu sei, mas realmente fazer o bem faz um bem danado. Eu ofereço cultura em troca de alimentos pra quem precisa”, revela a fundadora do projeto, Cida Burlandy.

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