Quino morreu, mas sua obra é imortal

Que Quino continue nos ensinando que a realidade tem que ser vista, mesmo que seja através de traços aparentemente ingênuos dos desenhos. Descanse em paz, Quino!

 

Quino morreu. Quino poderia ser o nome do seu tio avô, daquele familiar bem próximo ou de um primo que gosta muito, mas que nunca conseguem se ver. Ele não te conhecia, mas você o conhecia com certeza. E apesar de não terem parentesco algum, vocês sim eram bem próximos. Quino foi um cartunista argentino e, com toda certeza já te atingiu como um bom “hermano”. O artista foi o criador da Mafalda, aquela garotinha sacana que acabava com as nossas provas de português na escola. Se eu já tomei zero por causa de Quino e Mafalda? É claro! Obrigada Quino, obrigada Mafalda.

O cartunista não desenhava mais a Mafalda desde 1973. De saco cheio de ter que criar diariamente, bateu o pé e não quis mais dar forma a garotinha. A Mafalda não precisava mais dele, ela já havia adquirido vida própria pelos quatro cantos do mundo. Você já abriu mão da sua criação para que ela pudesse viver a própria trajetória? Quino fez isso pela Mafalda e por ele; Mafalda vive e Quino também queria viver. Mas hoje ele morreu, e Mafalda continua por aqui para atormentar as nossas provas de língua portuguesa. E , além disso, para fazer a gente pensar fora da caixinha, é claro.

Após deixar Mafalda, Quino começou um outro projeto: desejava falar sobre a ganância dos “poderosos” relacionado ao restante do povo. Acredito eu que poderoso é povo, só tem muita gente que ainda não sabe disso. Quino sabia. Em uma charge, o cartunista retratou com seriedade o que vemos em nossa sociedade: uma mulher recebia convidados enquanto uma menina brincava entre eles, e ela dizia “É a menina dessa gente humilde que temos por aqui. E nós lhe compramos a roupinha e os brinquedinhos porque a amamos como se fosse da família”. A roupinha que a menina vestia era o uniforme de empregada, com touca, e ao seu redor se veem os “brinquedos”, todos no tamanho adequado para sua idade: uma vassoura, uma tábua de passar, um espanador e um esfregão.

Eu não preciso escrever mais nada por aqui, a obra dele fala por si. Se eu fosse você, procuraria aí na internet mais sobre sua arte, para gerar aquele incômodo que frequentemente guardamos, sabe? Se sinta desconfortável, não precisa engolir sapo a vida toda e aturar quem sempre te explorou. E quem sabe consiga algum dia você consiga mudar a sua situação. Que Quino continue nos ensinando que a realidade tem que ser vista, mesmo que seja através de traços aparentemente ingênuos dos desenhos. Descanse em paz, Quino!

 

 

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